Pediram-me para escrever uma
história de amor, mas vou me reservar a falar sobre as reviravoltas que o mundo
dá. Até porque, há muito do amor nisso; é preciso muito mais que maturidade e
discernimento para compreender que as coisas nem sempre acontecem conforme a
nossa vontade.
Dizem que ao sairmos de uma
tempestade enxergamos o mundo com mais clareza. É verdade. É como se
deixássemos de ser apenas personagens e passássemos a ser também expectadores
da nossa própria existência.
O nosso olhar toma maiores
proporções e tudo o que antes parecia confuso e descabido, ao ser olhado por
todos os ângulos, passa a fazer sentido. Foi assim comigo e acredito que seja
com o mundo inteiro.
Tenho aprendido muito nesses
últimos meses, principalmente a saber esperar; a dar tempo ao tempo. Aprendi que
há momentos em que precisamos cruzar os braços e deixar que a vida tome as suas
próprias direções.
Aprendi a confiar na máxima de
que “o que tiver que ser, será!”
Não é fácil, para quem está
acostumada a matar um leão por dia, reconhecer que não se tem o controle sobre
tudo. Nem mesmo sobre a própria vida. E foi neste momento, quando me senti mais
frágil e vulnerável, que aprendi a confiar; aprendi a acreditar que não há nada
que eu queira, que eu não possa conseguir. Acho que é isso que as pessoas chamam
de FÉ. E se for, posso dizer que me descobri como uma pessoa de muita fé! O
suficiente para transformar o que antes era impossível em uma nova possibilidade;
a única e a última esperança!
E, exatamente como costuma acontecer
na ficção, no último instante, quando todas as esperanças e tentativas já
estavam esgotadas, a vida se refaz em forma de milagre. E onde antes só se via tempestos
tons de cinza, hoje só existe cor, luz e felicidade.
É possível que uma parte de vocês
ainda não consigam me compreender. Infelizmente, este é o tipo de experiência
que só se reconhece ao sentir na própria pele. Para aqueles que já estiveram na
escuridão e que, mesmo no breu, confiaram na existência da luz, ofereço o meu
respeito e a minha admiração.
E para vocês, que por ventura
encontram-se perdidos no meio deste turbilhão de impossibilidades, desejo que
descubram em si mesmos a mesma fé que descobri em mim. Acredite, ela está aí!
Talvez precisando apenas de um bom motivo para existir.
Há uma razão para dizerem que “após
a tempestade SEMPRE existirá a bonança”.
E mais...
...acreditem em mim quando eu disser
que TUDO PODE ACONTECER.
− Eu sei que tem sido difícil
para você... As coisas também não andam nada fáceis para mim! Mas não estou
aqui para te julgar. Conheço suas razões e não posso tirá-las de você.
− Eu juro que dei o melhor de
mim! – sussurrou entre suas lágrimas.
− Eu sei... aliás, tenho certeza
disso! Não sei se você tem a mesma impressão, mas a nossa história não acaba
aqui. Escreva isso aí, ela não acaba agora, não acaba aqui!
Ela tentou balbuciar alguma
coisa, mas a dor que se instalava em seu peito calou a sua voz.
Essas foram as últimas palavras
que ele disse antes de fechar aquela porta. Depois disso foi embora de um jeito
suave, como se prometesse (em silêncio) voltar. Enquanto cruzava o caminho da
sala de estar, controlava-se para não olhar para trás e ver as lágrimas que
escorriam pelo rosto da única mulher que amou na vida. Vê-la chorar seria o bastante
para fazê-lo desistir de tudo.
Desceu as escadas e caminhou
direto para casa. Enquanto andava por aquelas ruas vazias, relembrava os
últimos meses de sua vida. Pensou em como era possível as coisas mudarem tão de
repente. Clara tinha sido como uma mágica em sua vida. Desde o dia em que a
conheceu soube que havia encontrado algo raro. Demorou um pouco para admitir,
mas sim, aquilo era amor. Ele não era exatamente o último romântico, mas
desejava em seu íntimo poder amar e ser amado. Desde então, Clara passou a ser
essa oportunidade. Mais que isso, passou a ser a pessoa com quem ele resolveu
dividir a sua vida.
É muito fácil imaginar uma vida
ao seu lado. Ela é uma mulher incrível; meiga, sensível, carismática, um tanto
quanto desconfiada, mas muito apaixonante. E como se não fosse o suficiente é dona
de um jeito de menina e de um sorriso que desarmam qualquer um. À primeira
vista ela exibe uma discreta fragilidade, mas não, ela é exatamente o oposto. É
forte, é guerreira, é daquelas que não desistem nunca, que lutam até o fim.
Pedro conhecia o que carregava em
seu coração. Tinha certeza dos seus sentimentos e dos dela também. Sabia que
aquela história não tinha sido em vão e talvez esse fosse o motivo de acreditar
que aquele não era o final.
Ela tinha uma regra básica: não
se abrir a ninguém. Tudo vinha dando certo até a chegada de Pedro. A princípio
pensou que aquilo que os unira seria passageiro, assim como as suas outras
experiências. Felizmente ele havia vindo para ficar. Pedro era um tipão
tranquilo e despreocupado, mas carregava em seus ombros a responsabilidade de
ser um exemplo. Há alguns anos assumira este dever e trabalhava duro, dia-a-dia,
para isso acontecesse.
Com o passar do tempo ele se
tornou uma espécie de resgate. Assumiu o compromisso de trazer de volta tudo o
que ela havia perdido e assim o fez. Ele a devolveu a fé que tinha nas pessoas
e vontade de confiar acima de qualquer circunstância. Pedro a tirou da
escuridão e a trouxe de volta à luz. Muito mais que isso, ele a fez feliz,
feliz de verdade.
− Estranho pensar como as coisas
podem se perder assim... será que tudo o que vivemos foi em vão?!
− Nada é por acaso, Clara! Nada!
− Nós nos amamos, não é justo que
fiquemos separados.
− Eu sei... eu também não queria
que as coisas fossem assim, mas acho que nós dois precisamos disso.
− E se a gente terminar mesmo,
como vai ser?! Você vai seguir a sua vida, conhecer outras pessoas, namorar
outras mulheres... e aí, o que vai sobrar de nós?
− Eu não estou pensando nisso
agora... não estou pensando em outras mulheres porque não existe mais ninguém
para mim além de você. Eu não quero outra mulher, não quero outra namorada. Eu
quero você e é você que sempre vou querer!
− Não acho justo passarmos por
isso!
− E não é mesmo! Olha, Clara,
você foi a única pessoa que me fez feliz de verdade... a única pessoa com quem
eu desejei, ou melhor, desejo passar o resto dos meus dias! Mas há tempos que
não te vejo sorrir! Não esse sorriso que você coloca no rosto de vez em quando,
para não parecer muito sofrida. Falo daquele outro que me fez apaixonar por
você. Não quero que você o perca e não quero ser o responsável por isso!
Ela ficou calada, amargurada.
− Sei que estávamos esperando por
um milagre! Infelizmente não nos resta outra alternativa no momento... vamos
então usar o tempo a nosso favor! Vamos esperar que as coisas se resolvam.
− Esperar... esperar até quando,
Pedro?!
− Esperar até o dia que seremos
só nós dois. Nós dois e o futuro que planejamos juntos! Deus sabe, meu amor, o
quanto eu quis que esse momento não chegasse. Mas há coisas que se tornam
inevitáveis, você sabe disso melhor que ninguém.
− Sei...
− Então, meu amor! Vamos
esperar... esperar e buscar compreender o sentido de tudo isso! Tenho certeza
que vamos reencontrar tudo o que um dia nos uniu! Não duvide do amor que sinto
por você. E é por te amar demais que resolvi concordar com a sua decisão e me
ausentar... só Deus sabe o medo que tenho de não fazer falta para você, mas
precisamos disso... você precisa saber se é mesmo ao meu lado que quer ficar!
Se abraçaram por alguns minutos e
choraram juntos a dor de interromper aquela história.
− Promete que será por pouco
tempo?
− Não, não posso prometer isso...
não tenho como saber! Mas prometo que estarei aqui sempre que você precisar!
E de tudo, ficou a certeza de que
nada acontece por acaso.
− Uma vez que é vosso propósito contrair o
santo Matrimônio, uni as mãos direitas e manifestai o vosso consentimento na
presença de Deus e da sua Igreja.
Eles deram as mãos e, de mãos dadas,
deram o primeiro passo em direção ao resto de suas vidas.
− Eu Pedro, recebo-te, Clara, por minha esposa e a ti prometo ser fiel,amar-te e respeitar-te, na
alegria e na tristeza,na
saúde e na doença,todos
os dias de nossas vida.
22 de abril de 2013
O desafio de nos mantermos
perseverantes é árduo. Continuar, insistir, custa; e custa caro na maioria das
vezes.
Desistir é muito mais fácil, mais
cômodo, porém carrega cosigo consequências drásticas.
Ainda pior que se abrigar em algo
inconcluso, é fazê-lo sem perceber.
Essa sim é perigosa, a renúncia velada.
Renunciamos ao que queremos com a sensação de ainda estarmos lutando.
Perder uma batalha vez ou outra
faz parte da vida. Mas quando somos nós que estamos em jogo, a negligência não
se torna uma de nossas opções. Muitas pessoas podem determinar o nosso destino,
mas somente nós mesmo somos capazes de defini-lo.
É por isso que, com o tempo,
entregarmos os pontos nos impede de vencer.
Por que?
Simples. Somos capazes de nos acostumarmos
com tudo; com a perda, a derrota, a desistência. E porque nos acostumamos,
acabamos por abrir mão do que nos é caro.
Espero e busco ter a
sensibilidade de perceber a vida. Não quero correr o risco de que a pressa, que
envolve o meu cotidiano, leve a minha capacidade de saborear cada momento como
se deve.
Apesar de tudo, ainda resta o
medo de dar à minha alma o tratamento que ela não merece.
4 de abril de 2013
− Não perguntei
se você gostaria que eu ficasse, apenas vou ficar por aqui e pronto! – disse Luis
sem ser questionado.
− E não adianta
me olhar torto, muito menos fazer cara feia.
− Não estou
fazendo cara feia! Eu só acho que você não precis...
− Certo! Sei
também que não precisa. Na verdade você nunca precisa, de nada nem de ninguém!
Para você é suficiente ficar sentada nesse sofá remoendo os seus problemas
pessoais e a sua solidão.
Beatriz recostou
no sofá como quem houvesse desistido de uma batalha, enquanto Luis, de costas,
disfarçava o seu contentamento por passar mais 10 minutos em sua companhia.
− Ok, “Bê”! Não
precisa fazer essa carinha. Vamos encarar da seguinte forma: a casa precisa de
mim! Não dou 30 minutos para que esse chão esteja coberto de lenços de papel;
sem falar nos restos de cappuccino espalhados por todo apartamento; e o
controle da TV então?! Todo lambuzado de Nutella, porque você insiste em ver e
rever aquela cena melosa daquele filme que você gosta... aquele dos
velhinhos... como é mesmo o no...?
− Diário de uma
paixão! – Disse Beatriz enquanto esboçava um sorriso meio torto, mas sempre
sincero.
Ela sabia sorrir.
Tinha sempre consigo um entusiasmo que contagiava até os mais ranzinzas. Foi
assim desde o primeiro dia que a vi. Me lembro daquela cena como se fosse hoje:
eu sentado no meio de cem mil prontuários, desesperado com a infinidade de
pacientes que eu ainda não havia avaliado, o hospital em greve e ela lá,
sorrindo! Lembro-me dela caminhando despreocupadamente pelo corredor do
hospital, do seu jeito de amarrar o cabelo em um “rabo de cavalo” e arregaçar
as mangas do jaleco como se estivesse se preparando para a luta. Me encantei
por ela à segunda vista.
− Sério, “Bê”! Não vou deixar, nem sob
tortura, você transformar a sua casa em um cativeiro. E nem pense que você vai
assistir aquela lenga-lenga pela milésima vez.
− Ah é?! Que maravilha heim?! Você invade a
minha casa e agora vem quere me dizer o que eu devo ou não fazer?! – Ironizou.
− Exatamente! – retribuí com um sorriso.
− E o que a vossa excelência sugere para o meu
momento de fragilidade?!
Eu reconheço esse tom há um kilômetro de distância.
Esse é o jeito que ela tem de saber que eu estou sempre por perto, de que eu me
importo. É o jeito dela se sentir protegida, cuidada.
− Não se preocupe, vim preparado! Nem vou
precisar passar em casa para arrumar minhas coisas. Já coloquei tudo na mochila
desde o dia que te vi chegar com os olhos inchados no hospital;
aí foi só esperar você me contar o “auê”.
Ela fez uma cara de surpresa, como se não
soubesse que eu reparo em cada um de seus detalhes.
− Você me surpreende, Luis... – disse com a
voz já melodiosa, quase como a de costume.
− Então! Minha tarefa agora é passar o fim de
semana evitando que você faça alguma besteira calórica e solitária.
Aproximou-se dela no sofá, tocou delicadamente
o seu rosto, tomou-a em seus braços e acariciou levemente os cabelos. Aproveitou
cada segundo daquele momento, mesmo que em segredo.
− Enquanto eu dou um jeito nessa sua louça, vê
se esfrega um shampoo nessa cabeça e depois vem aqui me contar essa história
direito.
Ela sacudiu a cabeça concordando.
− Vou fazer um café e passamos a noite
conversando, se você quiser.
− Lu?!
− Oi?!
− Não entendo porque você é tão legal comigo!
− O que eu não entendo é como você continua entregando
este seu coração para quem não deve! Onde mais precisa doer para você levar
jeito?! Você é tão linda, tão especial... e eu... eu sou louco por você! Você
desperta a minha atenção e tudo o que há de bom em mim! Me encanta o seu jeito
de carregar o mundo inteiro nas costas sem ao menos suspirar de cansaço. Você
sabe, se eu estou aqui é porque você vale a pena; porque lhe quero bem. E
enquanto você tenta fazer esses seus lances rolarem com esses babacas, eu fico
aqui sentindo a sua falta, querendo conversar contigo, ganhar aquele “ei”
empolgado junto com uma cara de sono, na primeira corrida de leitos da manhã. -
Pensou.
E respondeu um pouco engasgado, lutando para
conter as palavras que teimavam em sair da sua boca.
− Você merece, esse é o motivo!
Ela sorriu novamente. Dessa vez um sorriso
aberto, límpido, branco.
− Isso, adoro te ver assim! Fico orgulhoso
quando consigo te fazer sorrir. Foi para isso que vim! – abraçou-a novamente.
− Terminando ali na cozinha, a gente senta no
sofá e dá um jeito nessa agonia! Talvez eu toque um pouco de James Taylor, ou te faça
cafuné, ou faça uma massagem profissional nos seus pés... Se nada funcionar, a
gente pega uma navalha e faz uns cortes sequenciais no seu braço, só para liberar
endorfina e trapacear a dor, como fez o Dr. House naquele episódio, lembra?
− Não... – respondeu tentando cessar a gargalhada.
− Não foi contigo que eu vi? Claro que foi,
você deve ter embarcado no sono, como sempre. Como pode? É só te aconchegar de
conchinha, contar até dez e pronto: você dormiu. E eu fico me sentindo o
cara-todo-poderoso que está lá para te proteger.
− Sei que você deve achar que nunca mais
conseguirá amar na vida, que ninguém nunca pedirá para ser seu marido e que aquela
coisa de felicidade está cada vez mais longe. Mas pelo amor dos céus, é só um
relacionamento falido; o menos importante deles. Olhe o lado bom, chore hoje,
deixe as lágrimas escorrerem e lavarem essa maquiagem. Amanhã, de rosto novo, a
gente pinta uma carinha feliz e eu te levo de carro para ver o mar. Ninguém vai
perceber seu sorriso postiço, o mundo inteiro vai estar ocupado sorrindo com
você.
− Confie em mim, às vezes quem está de fora
enxerga melhor. E daqui vejo seu sorriso, e sei bem o que ele é capaz de
fazer.
Atire a primeira pedra aquele que
nunca sentiu medo. Ou quem nunca teve a sua fala estrangulada por esse misto de
insegurança e impotência.
O medo é intrínseco à vida humana
e nós o percebemos no momento em que alcançamos o nosso limite.
Acredite, há sempre uma expressão
do medo no ponto final de uma linha.
Não adquiri este aprendizado dos
inúmeros livros que já li. Aprendi na prática, experimentando em minha própria
pele a força que tem esse sentimento.
Sentir medo me apavora; muito provavelmente porque ele
representa para mim um sinal de fraqueza. E se há uma coisa que me tira do
sério é sentir-me frágil.
Não sou daquelas que se sentem confortáveis ao admitir a sua
pequenez diante da vida; muito menos quando sinto a vida grande demais para
caber em meu coração.
Sou limitada e tenho que admitir: tenho em mim diversos
receios.
Temo o amanhã, o futuro, as pessoas e às vezes, temo até a
mim mesma.
Me incomoda muito perceber a minha fragilidade, mas me
incomoda muito mais saber que não tenho para onde correr. Afinal, o medo é o
que chamam de universal.
É por isso que às vezes me perco ao enfrentar certas situações,
ao cruzar qualquer nova fronteira, ao tentar recomeçar de um novo ponto de
partida.
Ainda não sei se isso é ou não um problema.
Alguns especialistas dizem
que o medo integra o nosso processo de sobrevivência. Sobrevivemos porque
enquanto temerosos, aprendemos a ter cautela. Acredito que a questão encontra-se
na transformação dos nossos medos em obstáculos; quando eles passam a impedir a
nossa realização, quando se tornam maiores que nós.
É importante conhecermos e respeitarmos os nossos limites.
Todavia, isso não significa que não existem outras alternativas que nos
conduzam a um mesmo objetivo.
Por fim, tenho percebido que é essencial não nos
desesperarmos, não perdermos o controle, as rédeas. Nossa vida deve e tem que
ser regida por nós mesmos.
Há uma linha tênue entre o poder construtivo e o nocivo que o
medo pode exercer em nossas vidas; contudo, está em nossas mãos optar por não
ir além ou chegar muito mais longe do que imaginávamos que seríamos capazes.
Há tempos pensei em escrever algo
sobre nós dois. Quis expor tudo o que sinto de imediato, mas sempre ficava
aquela sensação de que muito não seria dito. Para ser sincera, continuo com a
mesma impressão; mas a vontade de dizer ao mundo o que se passa aqui dentro do
meu peito, supera qualquer outro motivo que possa, por ventura, me calar.
Para começar, seria bom dizer como
e quando tudo isso começou; porém não o farei. Já que na verdade, nem nós
mesmos sabemos onde se encontra ao certo o nosso ponto de partida. Apesar de
comemorarmos, para nós não existem datas, todos os dias são como o primeiro. E além
disso, existe aquela velha sensação de que não nos descobrimos por acaso; não
houve um encontro, muito menos um começo. A verdade é que nos reencontramos e recomeçamos
do ponto onde, algum dia, havíamos parado.
É difícil querer que as outras
pessoas entendam o há entre nós, quando até nós mesmo nos perdemos na busca por
um sentido. Um dia, todos trocarão as explicações pelo inexplicável (assim como
fizemos), e então o mundo saberá que nascemos para ser, ao mesmo tempo, plural
e singular. Saberão que já não existe mais ‘você’ ou ‘eu’. Agora somos nós,
dois em um.
Pode parecer precipitado a outros olhos
afirmar tudo isso com tanta veemência. Mas é como eu já havia dito, somente os
nossos corações conhecem e entendem o que sentimos um pelo outro. Nós somos
como presentes que o destino, cuidadosamente, preparou. Somos as respostas de
todos os nossos questionamentos e a solução que nem sabíamos que buscávamos.
Eu sempre digo que não acredito
em acaso e, ao seu lado, parece um absurdo ainda maior acreditar que tudo possa
ter acontecido sem motivo.
Eu sempre nadei contra a maré. Sempre
fui a pessoa que acreditava e confiava mesmo quando tudo me provava o contrário.
Sempre fui daquelas que teimavam em sufocam a razão e deixavam a emoção falar
mais alto. Agi assim incansavelmente, até ser convencida de que a realidade não
passava nem perto dos ‘sonhos’ que eu vivia. Me tornei cética e descrente. E foi
nesse momento, no pior deles, que você apareceu.
A princípio eu quis ignorar o
óbvio e acreditar que, entre nós, nada era diferente. Mas é difícil lutar
contra os fatos. Hoje percebo que somos mais por estarmos juntos. Não só nos
completamos, mas transbordamos as nossas almas de tudo o que precisamos para
sermos realmente felizes. Às vezes, continuo me perguntando: ‘por que nós
dois?!’ Sigo sem encontrar explicações, mas acreditando que descobriremos o
motivo juntos, diariamente. Tenho certeza, mesmo sem saber como, que o que há entre nós
não é passageiro. As estradas que percorremos e os obstáculos que enfrentamos nos
trouxeram até aqui. De hoje em diante caminharemos juntos e chegaremos de mãos
dadas onde a vida quiser nos levar.
Eu sempre quis viver um amor;
sempre desejei ter ao meu lado alguém com quem eu pudesse contar; alguém que
não me desamparasse nem me abandonasse diante das adversidades. Sempre quis
alguém que me escolhesse pelo que eu sou e que não supervalorizasse os meus defeitos,
que apenas os aceitasse. Eu sempre desejei alguém que lutasse comigo, que
comprasse também as minhas brigas e que assim, crescesse ao meu lado. Eu sonhei,
incessantemente, com alguém que realmente se importasse com a minha felicidade,
e que fizesse dela também a sua. Por muito tempo busquei um companheiro, um
amigo, alguém que me fizesse ser capaz de ir além.
E hoje, ir além é tudo o que eu
quero... mas só se for com você!
Obrigada por ter me descoberto,
por acreditar e insistir em nós dois e, principalmente, por me fazer tão feliz!
Encerro com um trecho de um conto, ou talvez
uma previsão, que escrevi em setembro de 2011:
“Jamais vou deixar de dormir
sentindo o seu perfume ou o calor do seu corpo junto ao meu. Nada nesta vida
(nem em nenhuma outra) me fará acordar senão ao seu lado. Hoje não há nada que
me dá mais prazer do que poder sentar a sua frente e, enquanto tomo meu
café-da-manhã, reparar no quanto suas bochechas ficam rosadas quando digo que
me apaixono por ela todas as manhãs; ou o quanto as minhas camisas de algodão
caem melhor nela do que em mim. Então ela se levanta e vem caminhando
lentamente em minha direção. Senta no meu colo e encolhe as pernas, como se
quisesse caber inteira no mesmo espaço que eu. Desliza os dedos em meus cabelos
ainda molhados e recosta a cabeça em meu peito. E é nesse momento que gosto de beijar-lhe
a testa. É que quando faço isso, ela sempre me olha nos olhos; e tem ainda aquele
sorriso meio torto nos lábios, meio sem jeito. E, quase sem sentir, ela prende
uma mecha de seus loiros cabelos atrás da orelha. E é aí que sinto aquela
“coisinha” no estômago, aquele aperto gostoso no peito e a vontade de passar o
resto da minha vida ao seu lado.”
É isso que desejo hoje (e sempre)
para nós; que cada novo dia juntos seja como mais um passo rumo à nossa
felicidade.
Estive
pensando no quanto é difícil fazermos um amor durar nos dias de hoje; no quanto
nos parece utópico estabelecermos laços que sejam duradouros. Não sei quando e
como esses princípios foram distorcidos, mas ainda acho muito importante
resgatarmos e vivermos os valores “antigos”; sobretudo a fidelidade.
Fidelidade
é mais que a capacidade de sermos, exclusivamente, do outro; ser fiel significa
“sermos para o outro” a vida
inteira.
Provavelmente,
a melhor explicação para a maioria dos nossos problemas, é o fato de não sermos
mais capazes de criarmos laços definitivos. Diante disso, fico me perguntando “por
que temos tanto medo do outro?” “Qual a razão de não querermos que alguém faça,
definitivamente, parte de nossas vidas?”
A
explicação para isso nem sempre é clara, mas há algo que torna-se cada vez mais
visível: a medida que nos distanciamos dos outros, nos tornamos mais distantes
de nós mesmos. Porque, podemos não ser dependentes, mas precisamos de um
referencial; alguém que seja o instrumento pelo qual possamos, a todo tempo,
ter acesso a nós mesmos.
O
outro nada mais é que a nossa continuidade. Quando temos ao nosso lado alguém
que amamos de verdade e que realmente faça parte da nossa vida, é como se
olhássemos para a continuação de nós mesmos.
Ouvimos o bater daqueles corações e sabemos que o nosso bate junto, no
mesmo compasso. E a nossa felicidade depende disso, da possibilidade de
vivermos em unidade.
Particularmente
falando, a praticidade me agrada muito, mas não em excesso. Tudo hoje está
muito prático, dinâmico, liquefeito. Tudo se tornou muito líquido; o amor é
líquido, a vida é líquida e como tal, eles escorrem por nossas mãos o tempo
inteiro. Tudo isso porque somos levados a acreditar que a felicidade está diretamente
associada ao que é transitório. O que é definitivo nos amedronta, nos
aterroriza, nos repele. Falta-nos disposição para lutarmos, para fazermos
sacrifícios, para darmos mais de nós mesmos, para irmos além e ultrapassarmos
os limites do tradicional, do transitório, do temporário. Traduzindo, falta-nos
disposição para sermos felizes.
Não acho
que devemos ceder a essa imposição. Acredito que nadar contra essa corrente é a
responsabilidade de todos nós, é o nosso dever. Precisamos fazer com que as
coisas durem e imprimam suas marcas em nossas vidas. Precisamos permitir-nos amar,
e amar com qualidade; apostar na fidelidade, inclusive na fidelidade à vida. Tenho
visto muitas pessoas desistindo por tão pouco; ou se não é por tão pouco,
desistindo. Ultimamente, dizemos adeus com muita facilidade. E tenho certeza de
que não fomos feitos para sermos assim!
Devemos
à nós mesmos os laços que evitamos construir. Devemos à nós mesmos a vida em
unidade, a (maravilhosa) sensação de termos algo em comum com alguém, de
estarmos em perfeita sintonia.
Quando
descobrimos aquele que possui sentimentos semelhantes aos nossos, ou seja capaz
de enxergar um pouco a nossa alma, de nos ver além das aparências, nos sentimos
menos sós. Não é vergonha admitir que precisamos de quem diminua a nossa
solidão, ou que nos faça feliz pelo simples fato de estar ao nosso lado. Por
essas pessoas sim, somos capazes de viver.
Estamos
apostando demais na frouxidão dos abraços e nos esquecendo que são nos laços
mais estreitos que a vida realmente acontece. Pode ser que tenhamos milhões de
pessoas a nossa volta, mas de todos estes, quem ficaria até o fim? Com quem
poderíamos realmente contar?
É
desconcertante esse tipo de questionamento, mas é necessário. Porque antes de sermos
fieis aos outros, devemos ser fieis a nós mesmos. Precisamos assumir a
responsabilidade de sermos duradouros, irmos além do que é convencional, do que
esperam de nós. Surpreender a todos e a nós mesmos.
É a
surpresa que faz a vida valer a pena; que não nos deixa desistir, que nos
fornece ânimo para sermos permanentes. É a novidade que nos enche de vida e nós
podemos (e devemos) ter a consciência de que somos capazes de nascermos de
novo. E com isso, jamais perdemos o nosso encanto.
Não
tenho vergonha de dizer que vivo embreagada. Embreagada de sonhos, de emoções,
de sentimentos. Posso dizer, com convicção, que a vida não passa inutilmente
por mim! Eu tenho a mania de ser intensa. Sofro demais, me alegro demais, sinto
raiva demais. Tudo em mim é em excesso. E hoje não quero outra coisa, senão poder
nascer de novo. Olhar para tudo que há em mim e ainda ser capaz de me surpreender.
Desfrutar a alegria que é própria da surpresa, mas ter comigo a certeza de que não
sou um ser raso. Não quero começar a viver para fora e esquecer de que, quem
não vive para dentro, antes de qualquer coisa, não tem condições de viver para ninguém. Funciona como o amor.
Se não nos amamos, se não nos cuidamos, não há como amarmos ou cuidarmos do
próximo. Tudo na medida certa, para que não nos tornemos esgoístas, mas sabendo
que o nosso gesto de amor é um desdobramento do amor que temos por nós mesmos.
Permita-se
amar. Ser duradouro. Permanente. Até eterno. Olhe em volta e descubra um
motivo, por menor que seja, para ser feliz. E faça desse motivo uma razão para se
reencontrar. Se reinventar. E ir além.
Não sei se vocês concordam comigo,
mas dentre todas as formas de perder alguém, dizer adeus é uma das piores;
sobretudo quando nos despedimos contra a nossa vontade.
Particularmente, dizer “adeus” me
causa um imenso transtorno. Talvez porque nestas circunstâncias, a perda nunca
é completa. A pessoa não vai embora, muito menos o que sentimos por ela. O que
falta é apenas aquela ponte que antes nos unia. A conexão quase perfeita de
pensamentos, palavras e emoções.
É triste admitir que estas “pontes”
são mais frágeis do que possamos supor. É certo que em algum momento, uma ou
outra irá ruir. Cairá por terra e levará consigo promessas de amor ou amizade
eternas.
E ao vermos tanta coisa destruída, nos
perguntamos se vale à pena o esforço de tentarmos consertá-las. E esse tipo de
decisão que demanda tempo. Muito provavelmente porque sabemos que, ao
decidirmos reparar alguma coisa, corremos o risco do insucesso. Consertos não
garantem a perfeição, por melhores que eles sejam. Sempre ficará uma marca, um
remendo, algo que nos faça lembrar do que não queríamos. E o que antes era
frágil poderá se tornar ainda mais.
A minha ideia então é apostar no que
é novo. Reciclar.
Aproveitar os velhos sentimentos, as velhas
experiências, as lembranças e construirmos algo diferente, mantendo somente a essência
do sentimento antigo. Já dizia Shakespeare
que “não é necessário que mudemos de amigos, se compreendermos que os amigos
mudam”. Essa talvez seja uma das maiores verdades que já ouvi. Não é necessário
que abandonemos o que é importante para nós, se aprendermos a reaproveitar as
nossas vivências. Tudo em nossas vidas está em constante mudança, não seria
diferente com aqueles que amamos.
Por isso não acredito naquela coisa
de “começar de onde paramos”. É muita mesmice e seria igual a persistir
descuidadamente no erro. O correto, na minha opinião, é buscarmos outras
alternativas; fazermos o mesmo, porém de uma forma diferente. E isso é
possível. Existem muitos caminhos que convergem para o mesmo ponto. Alguns mais
fáceis, outros nem tanto. Mas há inúmeras oportunidades para seguirmos e é por
isso que não podemos desistir. Se não deu certo de um jeito, tente o próximo. Se
não chegou onde queria, existe outro caminho a ser percorrido.
Uma das minhas pontes estava caída. E
de um lado do abismo, morrendo de vontade de chegar ao outro lado, me
perguntava se valia a pena tanto esforço. E descobri que maior que a minha
dúvida era a saudade. E é por isso que estou aqui... não para recomeçar de onde
paramos, mas para seguirmos por um novo caminho.
Uma das primeiras coisas que aprendi,
é que os erros também fazem parte dos ensinamentos da vida; e sempre que algo
não dá certo, temos o direito de virar a página. E é isso que desejo hoje, recomeçar.
Decidi que o meu primeiro passo será
reconhecer os meus limites. E reconhecendo-os descobrirei uma nova maneira de
lidar com eles. Saber-se limitado talvez seja o que mais nos causa medo; muito
provavelmente porque adquirimos a consciência de que não somos capazes de tudo
o que pensamos ser. O medo faz parte da essência humana e é natural que, vez ou
outra, provemos desse sentimento. O que não podemos permitir é que ele seja
determinante, ou correremos o risco de vivermos eternamente assombrados.
Hoje percebo que o medo pelo
sofrimento, o transforma em algo maior do que ele é. E quanto maior ele fica,
mais medo sentimos. É um ciclo que não se encerra. Por isso resolvi assumir
outra postura, enxergar o que me aflige por outro ângulo e compreender que o
que me faz sofrer não deve me causar temor, mas sim coragem para enfrentar o que
a vida tem para me oferecer.
Então, percebi que este é momento do
meu fortalecimento. Só agora entendi que não posso enfrentar isso de qualquer
jeito... preciso reunir as minhas forças. Porque não posso coroar como
vencedor, quem só quer me derrotar.
Resolvi estabelecer com a vida um
pacto de verdade e ser honesta com a história que estou escrevendo; com os
medos que sinto e com aquilo que, verdadeiramente, merece o meu empenho e a
minha atenção.
Sinto como se eu estivesse perdendo
tempo e dando atenção ao que não necessita dela... detalhes bobos e às vezes
nem tão bobos assim; mas que não podem superar o que realmente importa: a minha
paz.
Assim como aprendi a escrever,
aprenderei também a viver de uma maneira diferente. Quando escrevo, preocupo-me
com cada detalhe, cada pontuação; se não for assim, jamais posso esperar ser
compreendida. Talvez essa verdade se estenda à minha vida. Talvez toda essa
bagunça seja porque eu não soube colocar os pontos nos lugares certos. Ou
porque não soube reconhecer, quando deveria, a pontuação que já estava ali para
ser lida. Deixei passar algumas exclamações e as emoções que elas codificam. Na
verdade eu as troquei pelas reticências, pelas interrogações e pela incerteza
(quase certa) do que poderia acontecer e não aconteceu.
Hoje darei início à busca pela
serenidade e pela emoção que deixei trancafiada dentro de mim. Decidi que não
quero que ela venha à tona somente sob a forma de mágoa. Eu nasci para exclamar
e para mostrar que é possível ter esperança, mesmo diante das adversidades.
Sinto falta em minha vida das
vírgulas e da calma que elas trazem consigo; falta dos pontos finais, porque
acho que é a incapacidade de usá-los que nos traz tanto sofrimento.
Essas são as lições que eu aprendi enquanto
tentava rabiscar algumas sílabas num velho caderno; as regras de pontuação que
eu acreditava que diziam respeito apenas àquele pedaço de papel. Lições que hoje
faço questão de compartilhar com vocês.
Há algo dentro de mim que clama por
transformação e é por isso que tomei coragem de encarar o que me incomoda. Estou
olhando o meu sofrimento de frente e me perguntando onde está a minha culpa...
ou melhor, onde está a minha responsabilidade diante de tudo isso que está
sendo ruim? Onde eu estou errando para que essa agonia perdure?
Sei que Deus olha por mim; e assim
como Ele, eu também não quero perder tempo. Não adianta que a graça de Deus
seja dinâmica se nós não conseguimos acompanhá-la. Ele é rápido, ama o tempo
todo, perdoa o tempo todo; a graça de Deus nos envolve com velocidade e nós não
temos o direito de ficarmos parados, estacionados.
Hoje eu descobri que também tenho
pressa... pressa de querer a vida, de ser feliz, porque eu não sei quanto tempo
ainda me resta.
"O mundo só anda armado, elitizado, cheio de interesses... e vc queria um amor! Isso é nobre!"
Tenho me decepcionado tanto e tão
profundamente com as pessoas, que me faltam palavras para descrever o efeito
disso em mim.
É muito mais do que dor. É uma
sensação de vazio; o mesmo vazio que sentimos quando somos roubados.
Roubaram-me a fé no próximo, a
crença de que as pessoas são essencialmente boas e a boa vontade de acreditar
até que me provem o contrário.
Fico me perguntando por que todos
(com raríssimas exceções) preferem o avesso ao direito? Porque as pessoas
escolhem se envolver por interesse ao invés de interessarem mais por nossos sentimentos?
O que sentimos nem sempre nos aponta
o melhor caminho. Vez ou outra nos vemos perdidos de nós mesmos, carregando
dentro de nós uma angústia tão grande que chega a nos sufocar.
Mas nesse caminho há sempre um
retorno; e para esta angústia há sempre um remédio, o tempo.
O tempo cura tudo, mas não
consegue apagar as impressões que as irresponsabilidades alheias imprimiram em
nós.
Viver baseando-se em interesse dá
muito trabalho. É preciso uma preocupação excessiva com todas as coisas, é
preciso pensar em todos os detalhes, em cada circunstância. Afinal a máscara
(seja ela qual for) não pode cair.
Viver de “mentirinha” retira da vida tudo o que ela tem de
bom: a espontaneidade.
Eu prefiro os tropeços, as quedas, a angústia e qualquer
outro sentimento ruim que possa existir. Porque sou toda sentimento, emoção. E a
mesma facilidade que tenho para chorar, tenho também para sorrir. E com a mesma
velocidade que caio, me levanto.
Levanto, sacudo a poeira e sigo em frente. Sigo adiante com
os braços bem abertos, para acolher tudo o que a vida tem para me oferecer.
E eu posso errar, me perder novamente, cair e demorar mais
para me levantar... mas, sob nenhuma circunstância, deixarei de sentir.