11 de março de 2012

O que não precisamos guardar

É estranho o nosso jeito de esperar o novo sem a intenção de nos desfazermos do que é antigo. O passado não passa quando fechamos a porta para que ele não vá embora.
Todas as vezes que insistimos em martirizar dentro de nós alguma experiência negativa, devemos fazê-lo com a consciência de que esta não vai passar.
Todos nós sabemos que o tempo é o melhor remédio que podemos viver, experimentar e administrar em nós. A dor que me afligia tanto ontem, talvez amanhã esteja menor, mais suportável. É o efeito do tempo sobre a nossa vida; se não nos cura, nos acostuma.
Diante de algo que nos incomoda, que nos impede de seguir adiante, a primeira coisa é saber que só podemos fazer o que estiver ao nosso alcance. Não andianta esticarmos os braços para tentar alcançar o inalcançável.
Se existe algo nos engasgando, ou se ainda há qualquer coisa que precisa ser resolvida em nosso coração, precisamos ter atitude e resolver; seja através das palavras, seja pelas lágrimas. Se podemos fazer algo para diminuir essa sensação de desconforto que muitas vezes nos sufoca, devemos fazer sem medo. Porque dessa forma, mesmo que lentamente, começamos a abrir as portas para que esse passado possa nos deixar e ocupar o seu devido lugar.
Qualquer atitude oposta a essa nos faz reprezar a experiência que não valeu à pena, agarrar-nos, sem necessidade, ao acontecimento que nos machucou. Então a gente, mesmo que involuntariamente, se coloca num processo contínuo de “automutilação”, já que as lembranças, o rancor e o ressentimento só nos causam novas feridas.
Eu nunca conheci alguém que se sentisse bem, que ficasse “curado” guardando ressentimentos. Por um simples motivo: o que é o ressentimento?
Re-sentir. É sentir várias vezes. Sendo assim, jamais irá cicatrizar por completo.
Alguém já reparou que quando temos uma ferida em cicatrização, durante o processo ela começa a coçar?!
Existem muitas situações afetivas que no momento em que começamos a nos recuperar dela, temos aquela sensação de querer retomar. São as “coceirinhas” da cura.
O importante é saber que devemos manter o nosso controle. É termos a consciência de que se coçarmos aquela ferida já quase curada, causaremos uma ainda maior.
Então, segure-se. E não ceda às provocações que não lhe oferecem um retorno concreto. Consiga manter sobre controle os seus olhos. Consiga manter sobre controle os seus ressentimentos. Consiga manter sobre controle as suas carências. E então, viva a libertação das injúrias que aquele fato lhe provocou.
É a vida... todo mundo se machuca. E infelizmente (ou não) não podemos construir uma redoma ao nosso redor. É por isso que precisamos saber que vez em quando as pessoas vão nos ferir com suas palavras, talvez até com as suas atitudes. O que não podemos permitir é que a palavra e a atitude que ferem, venham demorar demais em nós; venham se estender além do tempo que deveriam ficar, e com isso acabem por estragar a nossa essência.
Nos afetos funciona desse jeito. Quando algum acontecimento nos magoa verdadeiramente perdemos a disposição pra tudo; porque, independentemente do que tenha acontecido, aquilo tem um impacto sobre nós. E nos afeta tanto porque aquilo que talvez tenhamos perdido tinha um significado importante em nossas vidas. O que precisamos é aprender a administrar o tempo que esse impacto vai durar. Afinal, é o nosso ser, a nossa essência que está em jogo!
E acredite! Há sempre uma “feridinha” que precisa ser cuidada.
Há mais em nós precisando de consertos do que podemos perceber! Há muitas “curas” precisando serem feitas! E muitas vezes, é necessário voltarmos ao nosso passado para compreendermos o nosso presente.
Porque às vezes somos tão arrogantes? Será que alguma vez no nosso passado fomos humilhados demais e, porque fomos humilhados demais, temos dificuldades de gerir os momentos em que alguém nos contesta?
Ninguém é por acaso.
A renovação do “ser” acontece através da nossa reflexão; naqueles momentos em que começamos a colocar em ordem os nossos sentimentos desordenados, ou quando começamos a retomar a harmonia que às vezes a vida e os acontecimentos retiraram.
É isso que eu lhe desejo... que no hoje da sua vida, da sua história, você esteja empenhado em curar as feridas do seu ser. Se te machucaram, se te magoaram, se te feriram, não leve isso contigo. Ou melhor, leve! Leve como ensinamento para que você não faça o mesmo com o outro. Mas não permita que isso se transforme em amargura.
A tristeza para ser criativa tem que exercer dentro de nós o movimento da superação. Se estamos tristes, chateados ou magoados, devemos viver estes sentimentos com o propósito de superá-los. Pois, se não superamos, corremos o risco de colocar em nossas vidas um sabor amargo. E este, não faz bem ao coração.Um coração amargurado não consegue perceber a vida, permanece focado sempre nas mesmas coisas. E quando não ampliamos o nosso olhar, aumentamos as chances de infelicitar a nossa experiência de vida.
Eu desejo do fundo do meu coração que hoje a sua essência possa ser fortalecida!
Não permita ser objetificado por alguém, não permita nenhum tipo de desrespeito. Tenha a coragem de gritar a sua independência. Porque a vida te quer livre! Livre e com condições de mergulhar cada vez mais fundo nos seus mistérios.
Corrija o que for necessário, conserte o que estiver quebrado e, sem dúvidas, as suas obras serão muito mais satisfatórias. Porque no final das contas, é isso que desejamos: um coração puro para que a nossa atitude possa ser apenas um reflexo de um gesto que ainda nem começou. O gesto, mesmo antes de acontecer, tem o poder de nos mover. É um movimento que o outro não percebe, mas que nos leva a ir adiante, nos trás coerência. Antes do nosso gesto de amor, existe em nós um coração que ama. E isso precisa ser cuidado o tempo todo. Porque um coração fragilizado demais, machucado demais, pode vir a se tornar um território infértil; e aí, de nada adianta uma atitude.
Quando realizamos um gesto de amor, não é só o outro que é beneficiado, mas nós também somos. Porque o amor, assim como ele faz bem a quem recebe, também faz um bem imensurável a quem o oferece.