18 de setembro de 2011

Eu andava meio triste. Meio desanimado. Meio esquisito. Completamente assim, pelas metades. E até andei pensando que era disso que sentia falta. Da outra metade de mim que ainda não conhecia.
Eu gostava de sair de casa à noite e andar pelas ruas da cidade sem rumo certo. Gostava de sentir o frio atravessar o meu corpo e, ao mesmo tempo, desejar encontrar alguém que fizesse com que ele desaparecesse em segundos. Era isso, enquanto eu andava sem destino, costumava observar as mulheres que via pelo caminho; provavelmente tentando enxergar nelas a mulher que sempre sonhei encontrar. Não sei você, mas hoje eu acho isso muito engraçado. Fico me perguntando: E se eu encontrasse mesmo alguém próximo do que sonhei? O que eu ia fazer? Me aproximar e dizer: ”Oi, meu nome é Otávio. Estava passando por aqui e reparei em você... Éh... bom... vim dizer que você é a mulher da minha vida!” Deus, como pude ser tão idiota?!
Perdi a conta de quantas vezes fiz isso, de quantos quilômetros eu caminhei. Até que desisti. Não de caminhar, mas de encontrar alguém.
Desisti e me acomodei. E não demorou muito para que eu me conformasse com as noites de sexta na casa dos meus pais a jogar buraco com mais meia dúzia de cinqüentões. Não era exatamente o que eu havia planejado para mim, mas era o que a vida tinha me reservado. Fazer o que senão aceitar?
Mas na última sexta-feira me vi no fundo do poço. Liguei para minha mãe, só para saber se ela precisava que eu comprasse algo no caminho. E sabe o que ela me disse? “Não filho... hoje não vamos jogar. Seu pai me convidou para jantar. Sabe como é né?! É o nosso aniversário de casamento... vamos namorar!” E gargalhou. Ela gargalhando lá e eu aqui com essa vontade de chorar.
Então fui tomar banho. Fiquei ali parado embaixo do meu chuveiro mais de uma hora. Não sei ao certo qual era a minha intenção, se lavar minha alma e corpo, ou disfarçar as lágrimas que, a qualquer momento, podiam aparecer.
Água quente, banheiro abafado e o espelho todo embaçado. Foi inevitável lembrar da minha antiga namorada. Antiga mesmo. Ela tinha a mania de me deixar esperando enquanto tomava um banho muito mais que demorado. E antes de sair do banheiro deixava escrito no espelho um “eu amo você, neném!”. Bobagem não é?! Mas ela sempre me fazia sorrir com essas declarações de amor.
Sacudi a cabeça para tirá-la dos meus pensamentos e arrumar (desarrumar) meus cabelos. Ao menos isso em mim era bom, o cabelo. Sentei na cama e fiquei pensando o que eu poderia fazer para passar (acelerar) o tempo. Sem idéias, resolvi sair para comprar algumas cervejas e uma coisa congelada para comer. Vesti a primeira camiseta que achei no guarda-roupas, calcei meu tênis e fui até o supermercado mais próximo. Voltei para casa reparando na felicidade dos casais que encontrei pelo caminho e sorri ao lembrar que, naquela noite, até meus pais estavam “apaixonados”.
Cheguei em casa, liguei a TV, abri uma cerveja e me esparramei no sofá. E no exato momento em que comecei a gostar de estar ali, mesmo sozinho, a minha campainha tocou. Me bateu um desespero só de pensar que meus pais poderiam ter achado melhor cancelar o programa romântico e me fazer companhia. Pensei em não atender, mas, nem sei porque, mudei de idéia.
Era uma moça, bonita até. Me assustei ao vê-la na porta do meu apartamento e acabei por assustá-la também. Eu não esperava nenhuma visita, ainda mais de quem não conhecia... ainda mais de uma mulher.
Fiquei ali olhando para ela, sem dizer nada, tal qual um idiota. Até que ela deu um sorriso, assim de canto, daqueles meio envergonhados. Olhou para o chão e colocou os ondulados cabelos dourados atrás da orelha. E falou alguma coisa tão baixinho que eu mal pude ouvir. Fico me perguntando se eu não ouvi pelo seu timbre delicado de voz, ou se pelo encanto que o seu jeito de colocar os cachos atrás da orelha me causou. Em poucos segundos fui absorvido pelo perfume que a sua pele branca exalava. Continuei ali, parado. E ficaria ali o resto da noite sem resmungar. Até que despertei com o toque dela em meu braço. Me tocou e me perguntou alguma coisa. Só então consegui falar.
— Desculpe! Mas eu não ouvi o que você falou. – respondi balançando a cabeça novamente, como se quisesse colocar minhas idéias no lugar.
— Eu perguntei se você não tem uma escada para me emprestar?
— Escada? – perguntei quase me desconcentrando de novo.
— É.
— Não... eu não tenho uma escada.
— Hum... – e fez uma cara de decepção que dividiu meu coração em 1001 pedaços.
— Mas para que você precisa de uma escada a essa hora da noite? – perguntei rindo, tentando parecer simpático.
— Bom... É que a luz do meu quarto queimou. Mudei para cá há pouco tempo e ainda não tive tempo de comprar tudo o que preciso. – respondeu com uma voz tão suave, que mais parecia um carinho.
— Se você quiser posso trocar a lâmpada do seu quarto. Afinal, para isso é que serve ter 1,80 de altura. – sorri.
— Se não for muito incômodo...
— Claro que não!
Fui.
Fui e ainda não voltei. E nem vou.
Jamais vou deixar de dormir sentindo o seu perfume ou o calor do seu corpo junto ao meu. Nada nesta vida (nem em nenhuma outra) me fará acordar senão ao seu lado. Hoje não há nada que me dá mais prazer do que poder sentar a sua frente e, enquanto tomo meu café-da-manhã, reparar no quanto suas bochechas ficam rosadas quando digo que me apaixono por ela todas as manhãs; ou o quanto as minhas camisas de algodão caem melhor nela do que em mim. Então ela se levanta e vem caminhando lentamente em minha direção. Senta no meu colo e encolhe as pernas, como se quisesse caber inteira no mesmo espaço que eu. Desliza os dedos em meus cabelos ainda molhados e recosta a cabeça em meu peito. E é nesse momento que gosto de beijar-lhe a testa. É que quando faço isso, ela sempre me olha nos olhos; e tem ainda aquele sorriso meio torto nos lábios, meio sem jeito. E, quase sem sentir, ela prende uma mecha de seus loiros cabelos atrás da orelha. E é aí que sinto aquela “coisinha” no estômago, aquele aperto gostoso no peito e a vontade de passar o resto da minha vida ao seu lado.

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