Há muito tempo que vejo por aí algumas pessoas se aconselhando mutuamente a praticarem o “desapego”. Curiosa acerca deste assunto resolvi então pesquisá-lo.
Primeiramente recorri ao velho “pai-dos-burros”, o dicionário, para ter certeza de que compreendia o sentido dessa palavra.
Eis o achado:
Primeiramente recorri ao velho “pai-dos-burros”, o dicionário, para ter certeza de que compreendia o sentido dessa palavra.
Eis o achado:
Desapego s.m. : falta de apego; desafeição, desamor; desinteresse.
Após estar certa de que entendia corretamente o seu significado, comecei a questionar-me qual seria o motivo para incentivarmos o desamor e o desinteresse alheio. E sem querer acreditar na falta de afeto humana supus que existiria alguma outra justificativa consistente para tal fato.
Felizmente descobri, durante as minhas buscas pela internet, que o “desapego” é um dos mais importantes ensinamentos budistas. Mas para eles, ser desapegado não é sinônimo de indiferença, desinteresse ou fuga, como afirma o “Aurélio”.
Muito pelo contrário! Os seguidores do budismo não são encorajados a desviarem-se dos problemas, mas sim a encará-los de frente. Pelo visto, praticar o desapego não se trata de ignorar a vida, mas de sabermos qual é a hora certa de nos desprendermos daquilo que já é passado, dos fatos que não são mais concretos. Ao entender essa filosofia, ficou fácil perceber que a maioria dos nossos problemas são oriundos dessa nossa traiçoeira mania.
Ser apegado é atestar que não existe em nós a compreensão de que a vida, e o mundo, estão em constante mutação. E sendo assim, não há como não sofrermos! Se o mundo gira, devemos acompanhar o seu ritmo e não permanecermos estagnados.
Sofremos excessivamente pelo apego ao dinheiro, às nossas posses ou à nossa pobreza, à beleza e às nossas aptidões ou até mesmo a falta delas. Mas para mim, apegar-se às pessoas é ainda mais devastador.
O apego é um jeito estranho de amar. É um amor que ultrapassa os limites que deveria.
Estranho porque amar alguém, ao meu ver, significa sabermos qual é o limite, até onde nós podemos ou não podemos ir. Em outras palavras, vivermos a experiência do cuidado, já que esta é a melhor forma de se demonstrar um amor.
As palavra muitas vezes tem o poder de seduzir aqueles que a ouvem, mas a concretização definitiva do amor se dá na experiência do cuidado, no momento em que elegemos alguém para cuidar.
Tenho convicção de que, embora com nomes diferentes, cuidar e amar são necessariamente a mesma coisa. Um é a expressão constante do outro. E é nessa mistura de cuidado e de amor, que somos moldados, transformados naquilo que somos.
Mas veja bem! Este cuidado não deve ser excessivo, com a finalidade de evitarmos invasões desnecessárias.
Amar é também descobrir as modalidades do afeto. É saber ser firme e amoroso ao mesmo tempo. O apego é uma desordem dessas modalidades. É a vontade de ultrapassar o espaço que não é seu. E muitas vezes, nessa ilusão de que amar é sermos dono do outro, acabamos tomando um território que não nos pertence.
O fato de nos relacionarmos não condiz com a idéia de cedermos o que é individual. Há muito em nós que deve ser preservado, e mais, temos esse direito pois não deixamos de ser uma pessoa!
Apegar-se, nada mais é do que invadirmos espaços que não são nossos e acreditarmos na ilusão de que nós bastamos àquela pessoa. É termos a convicção de que ela não precisa de mais ninguém. Ou então o contrário, nos apegamos tanto ao outro, que passamos a acreditar que ele é a solução de todos os nossos problemas. Criamos a ilusão de que o outro preenche tanto os espaços dos nossos corações, dos nossos afetos, que passamos a crer que não precisamos de mais ninguém.
E não é segredo para ninguém, que uma relação desordenada repele as outras. Quem se apega não admite a aproximação de outras pessoas àquela a quem se apegou.
Se temos um amigo que nos sufoca, que começa a nos privar da companhia dos outros amigos que temos, que tenta ser mais importante em nossas vidas do que nós mesmos, é preciso tomar cuidado!
Ou então, se começamos a identificar que não mais estamos dando importância àquilo que tem, que uma pessoa está se tornando o pólo, o foco da nossa atenção, cuidado maior ainda! Pois, continuar a alimentar esse relacionamento é garantia de um sofrimento futuro.
Eu já vivi essa situação e posso dizer o quanto dói apegar-se demais a uma pessoa e transformá-la na pessoa mais importante da sua vida.
Todos nós temos o direito de termos os nossos amigos e amores; temos o direito de elege-los e até de dizer quem são eles. O que não podemos é colocar sobre os ombros dessas pessoas a responsabilidade de ser toda a fonte de afeto que nós precisamos na vida. Caso contrário esse apego nos matará e matará também a quem nos ama... e, somente nesse caso, o amor nos fará mal, ao invés de nos fazer bem.
Portanto, que amemos mais e sempre. Mas que não nos esqueçamos do desapego.
"Quando o sol brilha, desfrute-o; quando a chuva cai, desfrute-a Todas as coisas nesta vida – deixe que venham e deixe que se vão." **
Felizmente descobri, durante as minhas buscas pela internet, que o “desapego” é um dos mais importantes ensinamentos budistas. Mas para eles, ser desapegado não é sinônimo de indiferença, desinteresse ou fuga, como afirma o “Aurélio”.
Muito pelo contrário! Os seguidores do budismo não são encorajados a desviarem-se dos problemas, mas sim a encará-los de frente. Pelo visto, praticar o desapego não se trata de ignorar a vida, mas de sabermos qual é a hora certa de nos desprendermos daquilo que já é passado, dos fatos que não são mais concretos. Ao entender essa filosofia, ficou fácil perceber que a maioria dos nossos problemas são oriundos dessa nossa traiçoeira mania.
Ser apegado é atestar que não existe em nós a compreensão de que a vida, e o mundo, estão em constante mutação. E sendo assim, não há como não sofrermos! Se o mundo gira, devemos acompanhar o seu ritmo e não permanecermos estagnados.
Sofremos excessivamente pelo apego ao dinheiro, às nossas posses ou à nossa pobreza, à beleza e às nossas aptidões ou até mesmo a falta delas. Mas para mim, apegar-se às pessoas é ainda mais devastador.
O apego é um jeito estranho de amar. É um amor que ultrapassa os limites que deveria.
Estranho porque amar alguém, ao meu ver, significa sabermos qual é o limite, até onde nós podemos ou não podemos ir. Em outras palavras, vivermos a experiência do cuidado, já que esta é a melhor forma de se demonstrar um amor.
As palavra muitas vezes tem o poder de seduzir aqueles que a ouvem, mas a concretização definitiva do amor se dá na experiência do cuidado, no momento em que elegemos alguém para cuidar.
Tenho convicção de que, embora com nomes diferentes, cuidar e amar são necessariamente a mesma coisa. Um é a expressão constante do outro. E é nessa mistura de cuidado e de amor, que somos moldados, transformados naquilo que somos.
Mas veja bem! Este cuidado não deve ser excessivo, com a finalidade de evitarmos invasões desnecessárias.
Amar é também descobrir as modalidades do afeto. É saber ser firme e amoroso ao mesmo tempo. O apego é uma desordem dessas modalidades. É a vontade de ultrapassar o espaço que não é seu. E muitas vezes, nessa ilusão de que amar é sermos dono do outro, acabamos tomando um território que não nos pertence.
O fato de nos relacionarmos não condiz com a idéia de cedermos o que é individual. Há muito em nós que deve ser preservado, e mais, temos esse direito pois não deixamos de ser uma pessoa!
Apegar-se, nada mais é do que invadirmos espaços que não são nossos e acreditarmos na ilusão de que nós bastamos àquela pessoa. É termos a convicção de que ela não precisa de mais ninguém. Ou então o contrário, nos apegamos tanto ao outro, que passamos a acreditar que ele é a solução de todos os nossos problemas. Criamos a ilusão de que o outro preenche tanto os espaços dos nossos corações, dos nossos afetos, que passamos a crer que não precisamos de mais ninguém.
E não é segredo para ninguém, que uma relação desordenada repele as outras. Quem se apega não admite a aproximação de outras pessoas àquela a quem se apegou.
Se temos um amigo que nos sufoca, que começa a nos privar da companhia dos outros amigos que temos, que tenta ser mais importante em nossas vidas do que nós mesmos, é preciso tomar cuidado!
Ou então, se começamos a identificar que não mais estamos dando importância àquilo que tem, que uma pessoa está se tornando o pólo, o foco da nossa atenção, cuidado maior ainda! Pois, continuar a alimentar esse relacionamento é garantia de um sofrimento futuro.
Eu já vivi essa situação e posso dizer o quanto dói apegar-se demais a uma pessoa e transformá-la na pessoa mais importante da sua vida.
Todos nós temos o direito de termos os nossos amigos e amores; temos o direito de elege-los e até de dizer quem são eles. O que não podemos é colocar sobre os ombros dessas pessoas a responsabilidade de ser toda a fonte de afeto que nós precisamos na vida. Caso contrário esse apego nos matará e matará também a quem nos ama... e, somente nesse caso, o amor nos fará mal, ao invés de nos fazer bem.
Portanto, que amemos mais e sempre. Mas que não nos esqueçamos do desapego.
"Quando o sol brilha, desfrute-o; quando a chuva cai, desfrute-a Todas as coisas nesta vida – deixe que venham e deixe que se vão." **
(**Buda)
Muito corajosa você. Este é um tema muito difícil de ser aceito, inclusive eu ainda não sei se aprendi a aceitá-lo. Certa vez, quando eu passava pela vitrine de uma livraria vi um livro exposto que trazia na capa a seguinte frase: " O verdadeiro amor é uma arte divina e libertadora, enquanto o apego aprisiona e faz sofrer. " Acho que dá pra perceber porque logo que li o seu texto me lembrei desse acontecimento.
ResponderExcluirContinue ousando e encantando com os seus textos, minha amiga ( se é que posso te tratar assim ), não sei o quanto eles são importantes para os outros, mas para mim, são de uma importância tremenda. Acho que cabe um, muito obrigada :)
Lice, minha amiga, importante mesmo é saber que mesmo "ausente" você faz questão de se fazer presente de alguma forma!
ResponderExcluirObrigada pelo carinho incondicional...
Beijos