Estive
pensando no quanto é difícil fazermos um amor durar nos dias de hoje; no quanto
nos parece utópico estabelecermos laços que sejam duradouros. Não sei quando e
como esses princípios foram distorcidos, mas ainda acho muito importante
resgatarmos e vivermos os valores “antigos”; sobretudo a fidelidade.
Fidelidade
é mais que a capacidade de sermos, exclusivamente, do outro; ser fiel significa
“sermos para o outro” a vida
inteira.
Provavelmente,
a melhor explicação para a maioria dos nossos problemas, é o fato de não sermos
mais capazes de criarmos laços definitivos. Diante disso, fico me perguntando “por
que temos tanto medo do outro?” “Qual a razão de não querermos que alguém faça,
definitivamente, parte de nossas vidas?”
A
explicação para isso nem sempre é clara, mas há algo que torna-se cada vez mais
visível: a medida que nos distanciamos dos outros, nos tornamos mais distantes
de nós mesmos. Porque, podemos não ser dependentes, mas precisamos de um
referencial; alguém que seja o instrumento pelo qual possamos, a todo tempo,
ter acesso a nós mesmos.
O
outro nada mais é que a nossa continuidade. Quando temos ao nosso lado alguém
que amamos de verdade e que realmente faça parte da nossa vida, é como se
olhássemos para a continuação de nós mesmos.
Ouvimos o bater daqueles corações e sabemos que o nosso bate junto, no
mesmo compasso. E a nossa felicidade depende disso, da possibilidade de
vivermos em unidade.
Particularmente
falando, a praticidade me agrada muito, mas não em excesso. Tudo hoje está
muito prático, dinâmico, liquefeito. Tudo se tornou muito líquido; o amor é
líquido, a vida é líquida e como tal, eles escorrem por nossas mãos o tempo
inteiro. Tudo isso porque somos levados a acreditar que a felicidade está diretamente
associada ao que é transitório. O que é definitivo nos amedronta, nos
aterroriza, nos repele. Falta-nos disposição para lutarmos, para fazermos
sacrifícios, para darmos mais de nós mesmos, para irmos além e ultrapassarmos
os limites do tradicional, do transitório, do temporário. Traduzindo, falta-nos
disposição para sermos felizes.
Não acho
que devemos ceder a essa imposição. Acredito que nadar contra essa corrente é a
responsabilidade de todos nós, é o nosso dever. Precisamos fazer com que as
coisas durem e imprimam suas marcas em nossas vidas. Precisamos permitir-nos amar,
e amar com qualidade; apostar na fidelidade, inclusive na fidelidade à vida. Tenho
visto muitas pessoas desistindo por tão pouco; ou se não é por tão pouco,
desistindo. Ultimamente, dizemos adeus com muita facilidade. E tenho certeza de
que não fomos feitos para sermos assim!
Devemos
à nós mesmos os laços que evitamos construir. Devemos à nós mesmos a vida em
unidade, a (maravilhosa) sensação de termos algo em comum com alguém, de
estarmos em perfeita sintonia.
Quando
descobrimos aquele que possui sentimentos semelhantes aos nossos, ou seja capaz
de enxergar um pouco a nossa alma, de nos ver além das aparências, nos sentimos
menos sós. Não é vergonha admitir que precisamos de quem diminua a nossa
solidão, ou que nos faça feliz pelo simples fato de estar ao nosso lado. Por
essas pessoas sim, somos capazes de viver.
Estamos
apostando demais na frouxidão dos abraços e nos esquecendo que são nos laços
mais estreitos que a vida realmente acontece. Pode ser que tenhamos milhões de
pessoas a nossa volta, mas de todos estes, quem ficaria até o fim? Com quem
poderíamos realmente contar?
É
desconcertante esse tipo de questionamento, mas é necessário. Porque antes de sermos
fieis aos outros, devemos ser fieis a nós mesmos. Precisamos assumir a
responsabilidade de sermos duradouros, irmos além do que é convencional, do que
esperam de nós. Surpreender a todos e a nós mesmos.
É a
surpresa que faz a vida valer a pena; que não nos deixa desistir, que nos
fornece ânimo para sermos permanentes. É a novidade que nos enche de vida e nós
podemos (e devemos) ter a consciência de que somos capazes de nascermos de
novo. E com isso, jamais perdemos o nosso encanto.
Não
tenho vergonha de dizer que vivo embreagada. Embreagada de sonhos, de emoções,
de sentimentos. Posso dizer, com convicção, que a vida não passa inutilmente
por mim! Eu tenho a mania de ser intensa. Sofro demais, me alegro demais, sinto
raiva demais. Tudo em mim é em excesso. E hoje não quero outra coisa, senão poder
nascer de novo. Olhar para tudo que há em mim e ainda ser capaz de me surpreender.
Desfrutar a alegria que é própria da surpresa, mas ter comigo a certeza de que não
sou um ser raso. Não quero começar a viver para fora e esquecer de que, quem
não vive para dentro, antes de qualquer coisa, não tem condições de viver para ninguém. Funciona como o amor.
Se não nos amamos, se não nos cuidamos, não há como amarmos ou cuidarmos do
próximo. Tudo na medida certa, para que não nos tornemos esgoístas, mas sabendo
que o nosso gesto de amor é um desdobramento do amor que temos por nós mesmos.
Permita-se
amar. Ser duradouro. Permanente. Até eterno. Olhe em volta e descubra um
motivo, por menor que seja, para ser feliz. E faça desse motivo uma razão para se
reencontrar. Se reinventar. E ir além.